segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Fator cultural nas soluções de mobilidade urbana

Neste fim de semana passado, eu tive a oportunidade de conhecer o Prof. Sandro, líder de movimento negro, que defende, entre outras, questões relacionadas à infraestrutura em comunidades negras. Dizia ele que os brasileiros são muito influenciados pelas culturas européia e americana, no qual naturalmente nos levam a pensar em soluções dadas naqueles países para equacionar nossos problemas.

Essa conversa me fez refletir sobre o assunto. No campo da mobilidade urbana, por exemplo, diversas soluções adotadas por nós são provenientes de êxitos em países como França, Inglaterra, Alemanha e Estados Unidos. Podemos citar exemplos: as autopistas americanas e o transporte sobre trilhos dos franceses.

O Brasil absorve aprendizados até mesmo de alguns países asiáticos como o Japão e, recentemente, determinadas tecnologias chinesas e coreanas.

Preciso aqui fazer um parênteses e registrar uma contribuição brasileira voltada ao transporte público coletivo. Trata-se do conceito de Trânsito Rápido por Ônibus que foi concebido na década de 1970 em Curitiba/PR e ganhou o mundo. Apesar de ser uma ideia brasileira, a solução é mais conhecida (inclusive no Brasil) como Bus Rapid Transit - BRT, um nome em inglês.

Porém, poucas soluções o brasileiro usa como sendo provenientes de países africanos. Eles também possuem soluções para seus deslocamentos. O Professor me lembrou do transporte não motorizado com tração animal. Trata-se de um meio bastante utilizado por brasileiros que é muitas vezes negligenciado por gestores públicos e desprezado por usuários do transporte motorizado.

Estamos vivendo as experiências de um mundo globalizado, portanto, é natural que passamos cada vez mais conhecer e adotar as soluções utilizadas em outros países. Mas, me pergunto: será sempre benéfico adotar soluções internacionais para resolver problemas similares nacionais? Tenho chegado a conclusão que não. Por mais que determinados problemas de mobilidade urbana sejam os mesmos, há uma importante variável a ser considerada no equacionamento: a cultura de cada povo.

Cada país tem sua história e sua cultura. A mobilidade urbana é um assunto multidisciplinar que envolve comportamento humano (não há como desconsiderar isso). Portanto, penso que nem sempre boas soluções dadas na Europa são as mais bem aplicadas no Brasil. São culturas distintas. Além do sangue europeu, nosso povo tem grande influência de culturas africanas (e outras). 

Assim, penso que é importante conhecer bem nossas particularidades para poder adaptar soluções provenientes de outros países. Tenho incorporado em meus discursos que as soluções de mobilidade urbana precisam ser eficazes, eficientes e efetivas. Eficaz pois as soluções precisam de fato resolver o(s) problema(s); eficientes pois as soluções precisam resolver da melhor maneira possível (custo benefício); e efetivas pois as soluções precisam refletir o que a população realmente quer.

Para concluir, quero fazer com vocês um pequeno exercício com a figura desta postagem. A figura é um mapa usado em Johanesburgo (África do Sul), que visa orientar o usuário na comunicação com o motorista por gestos, informando-o seu destino (bairro) que pretende ir. Pode ser um tanto complicado para nós, mas é o dia-a-dia daquela comunidade. 

Digamos que os governantes de Johanesburgo resolvam melhorar o sistema de transporte, incluindo o seu sistema de informações ao usuário. Se eles adotarem um sistema de comunicação usado nos metrôs londrinos (totalmente diferente do praticado na região afriacana) sem qualquer adaptação, é bem possível que gere um caos nas primeiras semanas. Com o passar do tempo, é possível que a população se adapte à nova "cultura", mas a implantação pode simplesmente não vingar. Portanto, o ideal é conhecer as soluções mundo a fora voltadas à informação ao usuário e estabelecer qual delas seria a melhor a ser adaptada a sua realidades. Após, fazer um trabalho junto aos usuários de forma a introduzi-las gradualmente.

Abraços!

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