terça-feira, 11 de março de 2014

Especial Tóquio: Lições Sobre o Transporte Urbano


Estimadas(os),

Recentemente meu grande amigo, Geraldo Garcia, fez um curso no Japão sobre planeamento urbano, com ênfase no transporte urbano. Ele nos enviou algumas lições que aprendeu e vivenciou por lá. O aprendizado veio em momento oportuno, uma vez que Brasília e outras grandes cidades brasileiras vivem um caos na mobilidade urbana. 

A Região Metropolitana de Tóquio é mais do que 10 vezes maior do que Brasília e cidades do entorno. A lição aprendida é que é possível viver em uma cidade grande sem muitos problemas de mobilidade urbana. Chamou-me a atenção o planeamento urbano integrado, a quantidade de deslocamentos feitos por automóvel, a decisão de implantar ruas exclusivas para o pedestre, a rede e a qualidade do transporte público, além de aproveitar as infraestruturas de transporte para promover o desenvolvimento urbano.

Muito bom! Temos que analisar as boas práticas nacionais e internacionais e promovê-las, no que for possível, em nossa querida cidade! 

Geraldo, parceiro, meu muito obrigado e estamos juntos por uma Brasília melhor!

Um forte abraço!
Higor Guerra

Tóquio – Lições Sobre o Transporte Urbano

Estive no Japão durante 2 meses no final de 2013 participando do treinamento “Comprehensive Urban Transportation Planning and Project”. O curso contou com a presença de pessoas de 17 diferentes países, todos, países em desenvolvimento.

E não poderia haver lugar melhor para estudar transportes urbanos: A região metropolitana de Tóquio tem uma população de 37 milhões de habitantes, o que representa quase o dobro da população da grande São Paulo e mais de 10 vezes a do Distrito Federal, e Tóquio é uma cidade limpa, moderna, organizada, grandes espaços abertos mesmos nas regiões mais adensadas e muitas, mas muitas mesmo, ruas exclusivas para pedestres. 

Tama New Town

O transporte público funciona de tal forma bem que apenas pouco mais do que 10% dos deslocamentos pessoais na cidade são feitos com o uso do automóvel, ainda que a infraestrutura viária seja de ótima qualidade e conte com uma rede de vias expressas com mais de 300 km. O resultado é que Tóquio, grande como é, sofre menos com engarrafamentos do que qualquer cidade brasileira com mais de 1 milhão de habitantes. O metrô de Tóquio tem 13 linhas e 290 estações percorrendo 304 km, ele ainda é acrescido dos trens urbanos que formam um anel em torno e com linhas por dentro da região central da cidade, além de um conjunto de outras linhas de transportes sobre trilhos menores, como monorails, que fazem a conexão com as áreas mais distantes do centro. Este gigantesco e complexo sistema possibilita que as pessoas circulem por todos os lugares da cidade usando o transporte público. Mas não só esta abrangente cobertura incentiva seu uso intensivo, outros cuidados são também importantes: O metrô e os trens são pontuais, circulam em grande quantidade e alta frequência durante todo o dia, têm qualidade, oferecem segurança e há uma fartura de informações em todas as estações sobre as linhas, os itinerários e as tarifas.

Odaiba – Yanamote line

Uma das mensagens mais importantes que assimilei no treinamento é que o planejamento dos transportes urbanos é indissociável do planejamento urbano, a área urbana deve ser vista de forma orgânica e, neste paralelo, os transportes urbanos representariam o sistema circulatório do organismo. Uma novidade conceitual que conheci neste período foi o TOD – Transit Oriented Development que propõe o desenvolvimento de centros urbanos ao longo das linhas de metrô e trem urbano e, em especial, em torno de suas estações. São áreas residenciais e comerciais adensadas, podendo incluir shoppings, universidades, hospitais, órgãos de governo e, certamente, grandes prédios residenciais. Estas estações devem ser agradáveis aos pedestres, oferecendo grandes calçadas e passarelas, e acessíveis aos ciclistas oferecendo, inclusive, estacionamentos para as bicicletas.

Estação Central de Tóquio


No Brasil há uma carência muito grande no que se refere aos transportes coletivos e, portanto um desafio importante para os próximos anos. Há um uso excessivo dos transportes individuais motorizados, e, mesmo com os grandes investimentos atuais em transporte público pelo país, a precariedade do planejamento pode fazer com que os resultados obtidos não tragam os benefícios na escala esperada. Os conceitos absorvidos no Japão são perfeitamente aplicáveis às nossas cidades e a expectativa é que possamos rever as regras dos nossos programas de suporte financeiro aos municípios de forma que os investimentos do governo sejam, de forma mais efetiva, indutores do desenvolvimento dos nossos municípios e tragam os tantos benefícios que o transporte público traz para as áreas urbanas e para seus moradores.

JR East - Tohoku Through Line

Geraldo Freire Garcia
Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental
Secretaria Nacional de Transportes e da Mobilidade Urbana
Ministério das Cidades
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